Monitoria Maria Lygia Caldeira Cavalcanti Ghellere Biazim (1° semestre)







A monitora da disciplina de Introdução as Relações Internacionais Maria Lygia Caldeira Cavalcanti Ghellere Biazim realizou uma pesquisa sobre as Relações Internacionais e seus atores a fim de enriquecer o conhecimento dos alunos que se interessam pelo conteúdo ministrado na disciplina 


 



As Relações Internacionais e seus atores

No primeiro semestre de 2024, a disciplina “Introdução às Relações Internacionais” dispõe de monitoriais semanais para aprofundamento das discussões trabalhadas em aula. Os encontros do primeiro semestre examinaram o surgimento das Relações Internacionais e seus atores, divididos em três grupos – Estados, Organizações Intergovernamentais e Forças Transnacionais –, por meio da leitura de capítulos da obra de Mingst et al (2019).

Deste modo, o primeiro encontro refletiu sobre os capítulos 1 e 2 da referida obra. Estes capítulos iniciais destacam a diversidade de atores, eventos globais significativos e introduzem diferentes perspectivas teóricas das Relações Internacionais. O objetivo é mostrar como conflitos armados e desastres naturais acarretam a complexidade do mundo atual. O debate sobre a paz mundial é abordado, contrastando visões sobre se o mundo está se tornando mais pacífico ou perigoso, e a importância das organizações transnacionais e intergovernamentais na  promoção de cooperação entre países membros.

Além disso, discute-se o papel da história no estudo das Relações Internacionais, mostrando como eventos passados influenciam questões contemporâneas. Os Tratados de Westphalia são citados como um marco na emergência do sistema estatal contemporâneo na Europa, estabelecendo princípios como a soberania e a não interferência nos assuntos de outros Estados. Também se enfatiza a importância da história diplomática e nacional no desenvolvimento do campo das Relações Internacionais e a diversidade de teorias que ajudam a entender essas relações. Ou seja, o texto oferece uma visão abrangente das Relações Internacionais, enfatizando a complexidade dos eventos globais, a diversidade de atores envolvidos e a importância das teorias para compreender essas relações. Com destaque para a relevância da história como ferramenta de análise e explora diferentes perspectivas teóricas que moldam o estudo das Relações Internacionais.

Diversos capítulos da obra de Mingst et al (2019) tratam dos atores das RI. Por exemplo, o capítulo 9 aborda como as Organizações Intergovernamentais (OIGs) e as Organizações Não Governamentais (ONGs) representam uma complexidade a mais na dinâmica da soberania estatal, uma vez que podem tanto complementar quanto desafiar a autoridade dos Estados.

Por um lado, as OIGs, como a ONU e a União Europeia, podem ser vistas como facilitadoras da cooperação entre os Estados, proporcionando um meio para lidar com desafios globais que transcendem as fronteiras nacionais. Tais instituições oferecem uma plataforma para negociação e resolução de conflitos, além de coordenar políticas em áreas como segurança, comércio e meio ambiente. Isso pode fortalecer a soberania dos Estados, permitindo-lhes alcançar objetivos comuns de forma mais eficaz do que agir isoladamente.

Por outro lado, as OIGs também podem representar uma ameaça à soberania estatal, especialmente quando exercem autoridade sobre questões que os Estados consideram de sua competência exclusiva. Por exemplo, os Estados membros da União Europeia devem cumprir as leis e regulamentos estabelecidos pelo bloco, mesmo que essas normas entrem em conflito com as políticas nacionais. O que pode levar a uma percepção de perda de autonomia por parte dos Estados membros.

Quanto às ONGs, sua influência na política global pode desafiar a autoridade dos Estados de diferentes maneiras. Embora possam preencher lacunas na prestação de serviços e realizar advocacy para questões que os governos negligenciam, sua capacidade de mobilizar apoio público e pressionar por mudanças políticas pode minar a autoridade dos governos. As ONGs muitas vezes operam independentemente das estruturas estatais e podem contestar as políticas estatais, especialmente em questões relacionadas aos direitos humanos, meio ambiente e desenvolvimento.

As ONGs desempenham, assim, papéis cruciais nas relações internacionais, buscando alcançar objetivos comuns voltados para o bem público. O crescimento exponencial das ONGs é impulsionado pela disseminação global da democracia, conferências internacionais e avanços na comunicação eletrônica, permitindo-lhes uma voz mais forte na arena política internacional.

Ao longo do tempo, as ONGs expandiram sua finalidade de atuação, mobilizando-se em diversas áreas, desde a abolição da escravidão até questões de paz e direitos trabalhistas. Sua influência crescente é evidente na mobilização do público e na formulação de políticas em conferências globais. No entanto, enfrentam desafios, como a repressão estatal em alguns países e a competição por financiamento. Apesar de desempenharem funções cruciais, as ONGs têm limitações. Muitas carecem de poder material e recursos econômicos, dependendo de doações e enfrentando competição por financiamento. Além disso, questões de responsabilidade e transparência levantam preocupações sobre sua legitimidade e motivações. No entanto, as ONGs continuam a desempenhar um papel importante na promoção de mudanças sociais e políticas. Sua capacidade de mobilizar o público, influenciar políticas e fornecer assistência crucial torna-as atores significativos no cenário internacional. Apesar das críticas e desafios enfrentados, as ONGs estão cada vez mais colaborando com estados, organizações intergovernamentais e regionais, moldando assim a dinâmica das relações internacionais.

Outro exemplo dos atores das RI é abordado no capítulo 4, que examina o papel dos indivíduos nas relações internacionais é examinado em diferentes perspectivas, destacando tanto líderes de elite quanto a influência das massas populares e indivíduos privados.

Líderes como Mikhail Gorbachev e Deng Xiaoping são citados para mostrar como as decisões individuais podem causar mudanças significativas na política internacional. Suas ações, as reformas econômicas implementadas por Gorbachev na União Soviética e a introdução de uma economia de mercado socialista por Deng Xiaoping na China, demonstram o impacto dos líderes em transformações políticas e econômicas.

No entanto, há um debate sobre se essas mudanças foram exclusivamente resultado das ações desses indivíduos ou se simplesmente estavam no lugar certo na hora certa. A influência das massas populares na política externa também é considerada, com exemplos como a opinião pública nos EUA durante a Guerra Fria influenciando a percepção das políticas externas. A opinião pública pode afetar as políticas adotadas pelas elites, mas nem sempre é diretamente traduzida em ações políticas.

Além disso, as massas podem ter um impacto independente nas relações internacionais, como demonstrado por eventos históricos como a queda do Muro de Berlim e a crise de refugiados na Europa. As ações coletivas, muitas vezes sem liderança formal, podem moldar o curso da política mundial.

Indivíduos civis também desempenham papéis significativos, como Malala Yousafzai, que usou sua plataforma para promover a educação para meninas, e Mohamed Bouazizi, cujo ato de autoimolação desencadeou a Revolução do Jasmim na Tunísia e a subsequente Primavera Árabe. Esses exemplos ilustram como indivíduos independentes podem influenciar a política global, muitas vezes aproveitando as redes sociais para ampliar seu impacto.

Por fim, o último exemplo de atores das RI discutido na monitoria consta no capítulo 8: as multinacionais (MNCs) -  corporações que operam em vários países, desempenhando um papel crucial como impulsionadoras do crescimento econômico global. Representando cerca de 50% do comércio mundial e detendo a maior parte da propriedade intelectual, as MNCs são essenciais na economia liberal internacional. Estas empresas realizam atividades como investimento, importação e exportação de bens e serviços, buscando contornar barreiras comerciais e regulamentações para maximizar seus lucros.

Apesar da crise econômica global de 2008, as MNCs continuam sendo fundamentais, investindo em capital em todo o mundo e financiando projetos que impulsionam a produção agrícola e industrial. Preferindo agir independentemente dos Estados, acreditam que o mercado regulará seu comportamento, e qualquer abuso pode ser corrigido por outros atores do mercado ou pela regulamentação governamental.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a maioria das MNCs estava na indústria, mas atualmente incluem uma variedade de setores, desde varejistas como Walmart até empresas de energia como ExxonMobil. Tais empresas assumem formas diferentes e se envolvem em atividades como investimento em países estrangeiros, negociação de licenças e abertura de instalações no exterior.

As MNCs são consideradas motores do crescimento econômico, facilitando a integração das economias nacionais além do comércio e do dinheiro, conforme descrito por Robert Gilpin (1975). Defensores do liberalismo econômico veem as MNCs como um desenvolvimento positivo, pois acreditam que a melhoria econômica ocorre por meio do mecanismo mais eficiente, ou seja, o mercado.

Embora alguns estudiosos, como Norman Angell (2010), tenham argumentado que as MNCs promovem a interdependência e a paz mundial por meio do comércio, nem todos concordam com essa visão. O liberalismo econômico defende mercados abertos, livre comércio e livre fluxo de bens e serviços, com um papel limitado do governo na proteção dos direitos de propriedade.

Percebe-se, portanto, a multiplicidade de atores das RI e a diversidade de suas atuações. Neste sentido, limitar às RI apenas às ações dos Estados diminui o campo de estudo e de atuação da área e de seus profissionais – analistas de RI ou internacionalistas.



Referências bibliográficas

Mingst, Karen A., McKibben, Heather Elko,  Arreguín-Toft, Ivan M. - Essentials of international relations / Karen A. Mingst, University of Kentucky, Heather Elko McKibben, University of California, Davis, Ivan M. Arreguín-Toft, Boston University. Eighth Edition. | New York : W.W. Norton and Company, [2018];









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