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O Equilíbrio do Sistema Internacional do Século XIX ao Século XXI: reflexões sobre o capítulo 2 de Mingst et al (2019)
O equilíbrio do sistema internacional evoluiu de maneira significativa entre o século XIX e o século XXI, influenciado por mudanças políticas, econômicas, sociais e tecnológicas, que culminaram em guerras, reconfigurações geopolíticas e novas formas de relações internacionais. Este período foi marcado pela ascensão do nacionalismo, pelas revoluções industriais e políticas, pelo colonialismo, duas guerras mundiais, a Guerra Fria e o surgimento de novas potências econômicas. Cada uma dessas fases impactou profundamente o equilíbrio de poder global, como será visto a seguir.
I - O Sistema Internacional do Século XIX: Concerto Europa
O século XIX começou com uma Europa ainda em choque pelos efeitos das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789), eventos que introduziram os conceitos de governo baseado no consentimento popular e o nacionalismo. Estes novos princípios alteraram o cenário político europeu, onde a legitimidade do poder passou a ser questionada e movimentos nacionais, como na Itália e na Alemanha, emergiram como forças políticas importantes. (Mingst et al, 2019)
A derrota de Napoleão Bonaparte em 1815 marcou o fim de uma era de guerras revolucionárias e o início de um novo arranjo de equilíbrio de poder multipolar, consolidado pelo Congresso de Viena. Este evento criou o Concerto Europeu, um sistema de cooperação entre as grandes potências (Grã-Bretanha, Áustria, Rússia, Prússia e, posteriormente, França), com o objetivo de manter a estabilidade no continente e evitar novas revoluções. Esse período conhecido como Pax Britannica foi relativamente pacífico dentro da Europa. (Mingst et al, 2019)
No entanto, as ideias nacionalistas e a busca por unificação, especialmente na Itália e na Alemanha, reconfiguraram as fronteiras e alianças políticas, culminando na criação do Reino da Itália (1861) e do Império Alemão (1871). Essas mudanças, juntamente com a Revolução Industrial, aumentaram as rivalidades entre as potências, mas, em geral, as guerras foram evitadas no continente europeu. (Mingstet al, 2019)
Enquanto a Europa conseguia manter um relativo equilíbrio interno, as potências europeias projetavam suas rivalidades no exterior, iniciando uma intensa corrida imperialista em busca de colônias na África, Ásia e Américas. O imperialismo europeu foi marcado pela competição por novos territórios e recursos, facilitado pela superioridade tecnológica e militar das nações europeias, que possuíam armamentos mais avançados, meios de transporte eficientes. (Mingstet al, 2019)
A Conferência de Berlim de 1885 foi um marco nesse processo, pois estabeleceu regras para a divisão da África entre as potências europeias. A Grã-Bretanha, em particular, se destacou como a maior potência imperial, controlando vastos territórios que iam da Índia ao Egito, enquanto outras potências, como França, Bélgica, Alemanha e Itália, também participavam dessa expansão. Ao final do século XIX, aproximadamente 85% do continente africano estava sob controle europeu. (Mingst et al, 2019)
II - O Colapso do Equilíbrio de Poder e as Guerras Mundiais
A estabilidade que marcou grande parte do século XIX começou a se deteriorar com o crescimento da Alemanha após sua unificação. A Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), que resultou na derrota da França e na anexação das regiões de Alsácia e Lorena pela Alemanha, foi um prenúncio das futuras tensões europeias. As alianças entre as grandes potências começaram a se solidificar, e o equilíbrio de poder multipolar, mantido pelo Concerto Europeu, tornou-se instável. (Mingst et al, 2019)
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi o resultado dessa instabilidade. O assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono austro-húngaro, desencadeou uma reação em cadeia entre as alianças europeias, culminando em um conflito global. O Tratado deVersalhes, que encerrou a guerra, impôs duras sanções à Alemanha, gerando ressentimentosque facilitariam a ascensão do nazismo nas décadas seguintes. A guerra também marcou o colapso dos impérios Austro-Húngaro, Alemão, Russo e Otomano, criando novos estados na Europa Oriental e no Oriente Médio. (Mingst et al, 2019)
A instabilidade econômica e política do período entre guerras, exacerbada pela Grande Depressão (1929), facilitou o crescimento de regimes totalitários na Europa, como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi uma consequência direta dessa instabilidade. O conflito foi marcado pelo genocídio de judeus e outros grupos pelo regime nazista e pela brutalidade das campanhas militares em várias partes do mundo, incluindo o teatro do Pacífico, onde o racismo influenciou a violência entre os Estados Unidos e o Japão. (Mingst et al, 2019)
O fim da guerra viu o colapso do Terceiro Reich e a criação de uma nova ordem internacional, com os Estados Unidos e a União Soviética emergindo como superpotências. O sistema de equilíbrio de poder europeu foi substituído por uma divisão bipolar, com o início da Guerra Fria (1947-1991), um período de tensão ideológica, política e militar entre o bloco ocidental, liderado pelos EUA, e o bloco oriental, liderado pela URSS. (Mingst et al, 2019)
III - A Guerra Fria e o Equilíbrio Bipolar
Durante a Guerra Fria, as superpotências evitaram conflitos diretos, temendo a destruição mútua assegurada pelo uso de armas nucleares. O período foi marcado pela corrida armamentista e pela competição por influência nas regiões em desenvolvimento, especialmente na Ásia, África e América Latina. Alianças militares como a OTAN (1949) e o Pacto de Varsóvia (1955) institucionalizaram a divisão do mundo em dois blocos. (Mingst et al, 2019)
A Guerra Fria também foi pontuada por momentos de détente, como as negociações de limitação de armas nucleares (SALT I e II) e iniciativas diplomáticas para reduzir as tensões. No entanto, crises como a Crise dos Mísseis em Cuba (1962) e a Guerra do Vietnã (1955-1975) mantiveram o mundo à beira de um conflito catastrófico. (Mingst et al, 2019)
O colapso do bloco soviético em 1989, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, e a dissolução da União Soviética em 1991 marcaram o fim da Guerra Fria e o início de uma nova era nas relações internacionais. (Mingst et al, 2019)
IV - O Mundo Pós-Guerra Fria e os Novos Desafios
O fim da Guerra Fria trouxe um breve período de unipolaridade, com os Estados Unidos como a única superpotência global. No entanto, novos desafios emergiram, como o crescimento econômico e militar da China, a reemergência da Rússia, e o ressurgimento de movimentos nacionalistas e populistas em várias partes do mundo. (Mingst et al, 2019)
Conflitos como a Guerra ao Terror após os ataques de 11 de setembro de 2001, a guerra no Afeganistão e a invasão do Iraque em 2003, além da ascensão do Estado Islâmico, trouxeram novos desafios à ordem internacional. Além disso, a crise financeira global de 2008 e o aumento das tensões na Europa Oriental, especialmente com a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, demonstram que o equilíbrio de poder continua a ser uma questão central na política global. (Mingst et al, 2019)
Em resumo, o equilíbrio do sistema internacional passou por transformações dramáticas desde o século XIX, moldado por guerras, revoluções, processos de descolonização e rivalidades entre grandes potências. O século XXI continua a testemunhar novos desafios para a ordem global, com o surgimento de novas potências e a crescente interdependência econômica e tecnológica.